Decisões e plano terapêutico

Plano terapêutico

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    A internação em cuidados intensivos é um sinal de gravidade da situação do paciente, mas também da intensidade dos tratamentos implementados. Nenhum tratamento é inofensivo, nem sempre são suficientes para salvar a vida do paciente e todos eles podem levar a complicações e sofrimento para o paciente. Por esses motivos, é essencial que o plano terapêutico seja adaptado à situação de saúde única e em constante evolução do paciente, bem como aos seus desejos e valores pessoais. Para isso, os testemunhos de familiares e amigos são extremamente valiosos para as equipes de saúde, pois ajudam a compreender melhor quem é o paciente e o que ele gostaria para si.

De acordo com a legislação brasileira, há duas maneiras de verificar os desejos de um paciente inconsciente quando se trata de decidir sobre um plano terapêutico: o representante nomeado e as diretivas antecipadas de vontade (DAV). Elas podem ser elaboradas de forma livre, em documento comum, ou por meio de escritura pública. Além disso, o representante pode ser indicado pelo paciente para tomar decisões em seu nome, caso este fique incapaz de comunicar ou tomar decisões, de acordo com as disposições previstas na Resolução CFM nº 1.995/2012 e no Código Civil brasileiro (Lei nº 10.406/2002).

Obstinação terapêutica

Durante a internação em cuidados intensivos, a evolução do estado de saúde do paciente pode levar à reflexão sobre a pertinência dos tratamentos em curso. A ausência de benefícios esperados, pode levar à limitação ou interrupção de alguns tratamentos, ou até mesmo à redução para tratamentos que visem apenas garantir o conforto do paciente. O cuidado mais justo possível pode, por vezes, exigir um equilíbrio delicado, mas as equipes de cuidados intensivos estão muito atentas a essa questão. Não hesite em expressar suas dúvidas, preocupações ou possíveis incompreensões sobre o tratamento do seu ente querido à equipe de cuidados de saúde.

Limitação e interrupção dos tratamentos

  • Um tratamento pode ser considerado fútil se não traz qualquer benefício ao paciente. Desta forma, para minimizar o desconforto, a dor e a angústia que causam, se considerados fúteis, determinados tratamentos podem não ser implementados ou mesmo interrompidos se já tiverem sido iniciados. Essas decisões são tomadas em conjunto por toda a equipe de cuidados, levando em consideração os desejos expressos pelo paciente e informando claramente seus familiares. Tais decisões são reavaliadas todos os dias, conforme a evolução do estado de saúde do paciente.

    A não implementação ou interrupção de tratamento considerado fútil não significa suspensão do cuidado. Proporcionar conforto e aliviar os sintomas é sempre prioridade para as equipes de saúde, que estão aptas a introduzir cuidados paliativos exclusivos sempre que necessário.

O papel dos familiares na limitação dos tratamentos

  • As decisões de limitar e/ou interromper os tratamentos são decisões médicas baseadas em consultas multiprofissionais e multidisciplinares , levando em consideração a condição inicial do paciente, a patologia, o prognóstico (possíveis futuros na situação do paciente), as terapias e seus riscos inerentes, bem como os desejos e valores do paciente. Ou seja, diante do prognóstico (biologia) o médico deve associar o contexto e valores (biografia) e assim tomar a decisão mais acertada.

  • A tomada de decisão compartilhada é a melhor maneira de realizar a tomada de decisão relativa a limitação ou interrupção de tratamento. Desta forma, as opiniões da família e dos amigos do paciente são cruciais e sistematicamente solicitadas. No entanto, para evitar que o peso dessas decisões e suas consequências recaiam sobre os familiares, a decisão final continua a ser médica.

Diretivas Antecipadas de Vontade (DAV) são instruções escritas que o paciente prepara para ajudar a guiar seu cuidado médico. A Resolução CFM 1995/2012 define as DAV como o conjunto de desejos, prévia e expressamente manifestados pelo paciente, sobre cuidados e tratamentos que quer, ou não, receber no momento em que estiver incapacitado de expressar, livre e autonomamente, sua vontade.

 

Mesmo que não exista uma DAV, sempre que uma decisão de limitar ou interromper o tratamento estiver sendo discutida, é importante que os familiares possam testemunhar os desejos e valores do paciente, deixando de lado os seus próprios sentimentos e desejos, na medida do possível. As discussões com a equipe médica ou com um psicólogo podem ajudá-lo a esclarecer as coisas e a criar um plano de cuidados para o seu ente querido que seja mais adequado ao que ele desejaria para si mesmo.