A internação em cuidados intensivos é um sinal de gravidade da situação do paciente, mas também da intensidade dos tratamentos implementados. Nenhum tratamento é inofensivo, nem sempre são suficientes para salvar a vida do paciente e todos eles podem levar a complicações e sofrimento para o paciente. Por esses motivos, é essencial que o plano terapêutico seja adaptado à situação de saúde única e em constante evolução do paciente, bem como aos seus desejos e valores pessoais. Para isso, os testemunhos de familiares e amigos são extremamente valiosos para as equipes de saúde, pois ajudam a compreender melhor quem é o paciente e o que ele gostaria para si.
Durante a internação em cuidados intensivos, a evolução do estado de saúde do paciente pode levar à reflexão sobre a pertinência dos tratamentos em curso. A ausência de benefícios esperados, pode levar à limitação ou interrupção de alguns tratamentos, ou até mesmo à redução para tratamentos que visem apenas garantir o conforto do paciente. O cuidado mais justo possível pode, por vezes, exigir um equilíbrio delicado, mas as equipes de cuidados intensivos estão muito atentas a essa questão. Não hesite em expressar suas dúvidas, preocupações ou possíveis incompreensões sobre o tratamento do seu ente querido à equipe de cuidados de saúde.
Um tratamento pode ser considerado fútil se não traz qualquer benefício ao paciente. Desta forma, para minimizar o desconforto, a dor e a angústia que causam, se considerados fúteis, determinados tratamentos podem não ser implementados ou mesmo interrompidos se já tiverem sido iniciados. Essas decisões são tomadas em conjunto por toda a equipe de cuidados, levando em consideração os desejos expressos pelo paciente e informando claramente seus familiares. Tais decisões são reavaliadas todos os dias, conforme a evolução do estado de saúde do paciente.A não implementação ou interrupção de tratamento considerado fútil não significa suspensão do cuidado. Proporcionar conforto e aliviar os sintomas é sempre prioridade para as equipes de saúde, que estão aptas a introduzir cuidados paliativos exclusivos sempre que necessário.
As decisões de limitar e/ou interromper os tratamentos são decisões médicas baseadas em consultas multiprofissionais e multidisciplinares , levando em consideração a condição inicial do paciente, a patologia, o prognóstico (possíveis futuros na situação do paciente), as terapias e seus riscos inerentes, bem como os desejos e valores do paciente. Ou seja, diante do prognóstico (biologia) o médico deve associar o contexto e valores (biografia) e assim tomar a decisão mais acertada.
A tomada de decisão compartilhada é a melhor maneira de realizar a tomada de decisão relativa a limitação ou interrupção de tratamento. Desta forma, as opiniões da família e dos amigos do paciente são cruciais e sistematicamente solicitadas. No entanto, para evitar que o peso dessas decisões e suas consequências recaiam sobre os familiares, a decisão final continua a ser médica.
Diretivas Antecipadas de Vontade (DAV) são instruções escritas que o paciente prepara para ajudar a guiar seu cuidado médico. A Resolução CFM 1995/2012 define as DAV como o conjunto de desejos, prévia e expressamente manifestados pelo paciente, sobre cuidados e tratamentos que quer, ou não, receber no momento em que estiver incapacitado de expressar, livre e autonomamente, sua vontade.
Mesmo que não exista uma DAV, sempre que uma decisão de limitar ou interromper o tratamento estiver sendo discutida, é importante que os familiares possam testemunhar os desejos e valores do paciente, deixando de lado os seus próprios sentimentos e desejos, na medida do possível. As discussões com a equipe médica ou com um psicólogo podem ajudá-lo a esclarecer as coisas e a criar um plano de cuidados para o seu ente querido que seja mais adequado ao que ele desejaria para si mesmo.