Apoio no luto

Algumas dicas no caminho do seu luto

O momento da morte

O momento da morte de uma pessoa querida é muito delicado. Perder alguém querido pode ser uma das experiências mais dolorosas que enfrentamos durante a vida. O luto é uma resposta à perda. Trata-se de um processo natural e multifacetado, que envolve uma ampla gama de emoções, sensações físicas e mudanças comportamentais. O luto pode manifestar-se fisicamente através de sintomas como dor no peito, palpitações, dores de estômago, enjoo, perda de apetite, insônia e fadiga . Comportamentalmente, pode haver isolamento social, distúrbios do sono e do apetite, e dificuldade de concentração. Buscar apoio emocional é fundamental durante o processo de luto. Conversar com amigos, familiares ou profissionais de saúde mental pode ajudar a lidar com a dor e a encontrar formas de seguir em frente. Em alguns casos, o luto pode se tornar prolongado ou complicado, exigindo acompanhamento especializado .
Lembre-se de que o luto é uma resposta natural à perda e que cada pessoa tem seu próprio tempo e maneira de vivenciá-lo. Permita-se sentir, buscar apoio e cuidar de si mesmo durante esse período difícil.

Funerais

O momento do funeral é um marco simbólico e social no processo de luto e, do ponto de vista psicológico, representa um momento de confronto com a realidade da perda. Este momento é carregado de significados emocionais, culturais e relacionais. As reações variam bastante, mas alguns padrões e aspectos são comuns: – Confronto com a realidade da morte (momento em que a perda se torna concreta e inegável. Isso pode causar intenso sofrimento emocional, mas também pode ajudar a iniciar o processo de elaboração psíquica da perda);

– Expressão emocional coletiva (espaço socialmente permitido para expressar emoções, como choro, desespero, tristeza, ou mesmo raiva);

– Rituais como função simbólica (função de transição e separação, o que contribui para a organização interna da perda e representa um momento de continuidade dos laços afetivos por meio de homenagens e lembranças).

Reserve um tempo para pensar sobre o que é importante e como deseja que o funeral de seu ente querido seja conduzido, de acordo com suas crenças e desejos. Não hesite em pedir ajuda tanto para organizar o funeral quanto para lidar com a vida cotidiana.

O trabalho de luto

Este é um período muito especial, uma jornada pessoal composta de desequilíbrios que exigem tempo e energia, bem como trabalho interno que o fará oscilar entre momentos de sofrimento e momentos de paz. Esses momentos vêm e vão de maneiras diferentes para cada pessoa. Este processo de adaptação à ausência é longo e difícil. É importante dar-se tempo, ser tolerante e paciente consigo mesmo e com os outros. Viver o luto não significa esquecer, mas sim aceitar que a vida é agora diferente e aprender a viver com a cicatriz deixada pela perda do seu ente querido.

Ao longo do seu caminho diferentes sentimentos estarão presentes:

  • Impotência e desânimo: É possível que experimente uma sensação de vazio, como se fosse um automato, agarrando-se à vida apenas pela força do hábito. Estar bem acompanhado e manter-se ativo podem ser formas úteis de encontrar algum conforto.
  • Negação: A mente pode tentar se proteger ignorando a realidade da perda. A negação pode ser expressa através de uma fantasia na qual o ente querido ainda está presente. Esse período, que geralmente é de curta duração, é uma defesa contra uma realidade que ainda é muito dolorosa. Esta atitude pode causar surpresa e desconforto nas pessoas ao seu redor, que não vivenciam esse sentimento, tornando a comunicação difícil e conflituosa.
  • Problemas físicos: O seu sofrimento pode ser sentido no corpo. Você pode sentir um mal-estar geral, insônia, dores de estômago, dores de cabeça ou perda de apetite. Também pode sentir que seus movimentos e pensamentos ficaram mais lentos: sua energia está voltada para dentro e todos os seus pensamentos são para o seu ente querido. Comer em boa companhia pode estimular seu apetite. Os tratamentos sintomáticos também podem ajudar.
  • Revolta e raiva: Sentimentos de revolta e injustiça, perguntas incessantes ou a procura de culpados podem surgir. Realizar um trabalho psicológico, com orientação profissional, pode ser útil para libertar-se da raiva e facilitar a aceitação da situação.
  • Culpa: É possível que se sinta culpado e pense incessantemente sobre o que fez ou deixou de fazer. Muitas pessoas consideram a culpa a maior, mais longa e mais complexa forma de sofrimento. O trabalho psicológico, com orientação profissional, será útil para ajudá-lo a elaborar esses sentimentos e facilitar o processo de luto.
  • Lembretes diários: No início, situações cotidianas podem recordar a ausência do seu ente querido: lugares, memórias, celebrações familiares… Partilhe os seus sentimentos com os outros, procure conforto e permita-se chorar e receber apoio.
  • Solidão e desespero: O sofrimento intenso pode levar a sentimentos de desespero, perda de interesse por tudo e medo do futuro. Pode surgir sensação de sobrecarga e, em casos extremos, pensamentos sobre morrer. Não ignore esses sentimentos. Eles refletem a intensidade da sua dor e isso requer cuidado, apoio e escuta. É crucial abrir-se aos outros. Converse com alguém de confiança — um amigo, familiar, profissional de saúde. Procure ajuda profissional (psicólogo ou psiquiatra). Esses profissionais estão preparados para ajudar você a lidar com essa fase.

O seu ente querido faleceu, como continuar a viver?

  • Dê a si mesmo o direito de sofrer, de expressar sua tristeza e de chorar. Você não é frágil ou anormal: você está de luto.
  • Aceite que pode se sentir limitado e cansado: o luto requer muita energia. Dormir é importante para descansar sua mente e avançar no processo de luto.
  • Não se isole, converse com as pessoas ao seu redor e não hesite em expressar suas necessidades: talvez você prefira falar sobre seu ente querido ou prefira distrair-se completamente.
  • Cuide de si mesmo, descanse, tenha uma dieta balanceada e peça ajuda para as tarefas cotidianas.
  • Identifique as pessoas e as atividades que fazem com que se sinta bem. Incentive esses encontros e planeje essas atividades.
  • Não seja muito ambicioso e estabeleça metas simples para si mesmo. Diga: “Vou fazer uma refeição adequada hoje” ou “Vou dar um passeio no parque” ou “Vou nadar por uma hora” em vez de “Preciso melhorar”. Cada pequena vitória sobre a tristeza auxilia a colocá-lo de volta no caminho da vida.
  • Não deixe que os outros lhe digam o que fazer: as pessoas ao seu redor acharão que estão ajudando, dando muitos conselhos. Alguns serão apropriados, outros não. Lembre-se que somente você sabe o que é certo para si.
  • Adie as grandes decisões que poderiam mudar o curso de sua vida para sempre: mudar de emprego, mudar de casa, divorciar-se, ir para o exterior. Este não é o momento de tomar decisões das quais poderá arrepender-se mais tarde.
É normal que, em determinados momentos, não tenha vontade de falar sobre a pessoa que faleceu e que prefira estar num local onde ninguém saiba o que aconteceu. Com o tempo, sentirá, com maior frequência, a sensação de voltar a se sentir bem ou feliz. Não se sinta culpado por isso. Trata-se de um sentimento legítimo. É possível que enfrente mais dificuldades durante o processo de luto do que imaginava. Algumas circunstâncias da morte podem ser fatores de risco para um “luto complicado” ou “luto patológico” — um luto que se prolonga no tempo e interfere com a capacidade de quem o vive para retomar uma vida normal. Nestes casos, procure ajuda do seu médico de família, que poderá prescrever-lhe medicamentos para ajudar a ultrapassar esta fase ou encaminhá-lo para especialistas. Além disso, não hesite em consultar um psicólogo. É perfeitamente normal sentir dificuldades ao lidar com uma perda difícil e precisar de uma escuta profissional, mais neutra emocionalmente do que a de um familiar ou amigo próximo.

o Luto nas crianças

Ajudar as crianças no caso de falecimento de um ente querido:

  • Responda às perguntas delas de forma simples. Evite o excesso de explicações.
  • Mostre às crianças que a morte é um assunto sobre o qual elas podem falar.
  • Ouça o que a criança tem a dizer: fale sobre o ente querido, as emoções, reconheça e aceite os sentimentos, ofereça apoio.
  • Fale sobre a morte sem usar eufemismos: evite falar sobre dormir ou partir, o que implicaria em acordar ou voltar.
  • Tranquilize as crianças sobre sua própria situação e a de outras pessoas ao seu redor.

Mais informações: Conversando com as crianças sobre a morte

 

 

Funerais

 

Os funerais podem ser um momento reconfortante de união familiar, mas também podem ser vividos como algo muito pesado para as crianças menores. Organizar um momento de recolhimento e lembrança com a família pode ser uma alternativa interessante.

Se a criança quiser comparecer ao funeral, certifique-se de que ela esteja bem preparada para o evento e para as emoções que serão expressas. Certifique-se de que ela tenha o apoio de um adulto calmo durante todo o dia.

Saiba mais sobre o acompanhamento de crianças em caso de morte

Alguns livros para ajudá-lo no seu luto

  • “A morte é um dia que vale a pena viver” – Ana Claudia Quintana Arantes
  • “Luto: estudos sobre o sofrimento e a perda” – Maria Helena Franco (org.)
  • “O ano do pensamento mágico” – Joan Didion
  • “A última grande lição” – Mitch Albom
  • “Para você que perdeu o seu amor: caminhos para lidar com o luto por viuvez” – Leticia Carneiro, Luciana Mazorra, Maria Lívia de Abreu, Marianne Branquinho Leitura para crianças
  • “O Coração e a Garrafa” – Oliver Jeffers
  • “Para Onde Vamos Quando Desaparecemos?” – Isabel Minhós Martins
  • “Sempre Viverei com Você” – Anna Pignataro
  • “O Pato, a Morte e a Tulipa” – Wolf Erlbruch
  • “O dia em que o passarinho não cantou” – Luciana Mazorra e Valéria Tinoco
  • “Menina nina: duas razões para não chorar” – Ziraldo