A experiência do paciente em cuidados intensivos

Uma experiência única

A experiência de cada paciente internado em cuidados intensivos é única. Ela dependerá da patologia, dos tratamentos utilizados, da duração da internação e do histórico de cada indivíduo. Entretanto, há algumas coisas que podem ajudar os familiares a entender melhor a experiência do paciente durante a internação e a interagir mais facilmente com ele.

Imerso em um mundo próprio

O paciente sedado, comatoso e/ou confuso é mergulhado em um estado de consciência difícil de compreender para aqueles que nunca o experimentaram. Ele é capaz de ouvir e, se seus olhos estiverem abertos, ver o que está acontecendo ao seu redor, mas sem integrar as informações normalmente: isso é semelhante ao que acontece quando incorporamos um som ou uma palavra ouvida durante o sono em um sonho em andamento. Essas misturas de elementos reais e sonhos podem resultar em lembranças que geralmente são estranhas e difíceis de entender para o paciente. Como membro da família, escrever algumas palavras sobre o que conversa com o paciente durante a visita pode ajudá-lo a organizar as coisas quando ele acordar. Nadine, uma das ex-pacientes da rede One O One, conta como teve a estranha lembrança de que uma de suas amigas, muito maternal, havia abandonado seus filhos. Quando leu seu diário, percebeu que essa amiga havia escrito (e, portanto, provavelmente dito) “Só estou passando para ver, deixei as crianças no carro”, o que lhe permitiu entender sua estranha lembrança. Muitos pacientes descrevem a impressão de estar em um barco, provavelmente ligada ao fluxo e refluxo de ar nos tubos do ventilador ou no colchão de ar que se infla e se desinfla para evitar escaras. Outros terão lembranças mais violentas de perseguição. Às vezes, essas memórias precisam ser desconstruídas com a ajuda de um psicólogo para que o paciente volte a ter uma vida tranquila após os cuidados intensivos. Para ajudar os pacientes a criar vínculos entre suas alucinações e sonhos durante os cuidados intensivos e a realidade do que vivenciaram, escrever um diário pode ser uma iniciativa particularmente valiosa.

Acordar

Ao contrário do que a maioria dos filmes retrata, o despertar não é um momento curto, mas sim um processo. Dependendo dos medicamentos sedativos utilizados, da duração total de seu uso e da recuperação da função renal (que permite sua eliminação), o despertar pode levar de alguns minutos a vários dias. Geralmente, o paciente ainda estará intubado quando os sedativos forem interrompidos, pois ele precisa estar totalmente acordado para proteger o cruzamento entre as vias aéreas (que levam aos pulmões) e o trato digestivo (que leva ao estômago). Este costuma ser um período relativamente desconfortável. O paciente não consegue se expressar com facilidade (comunicação prejudicada pelo tubo do ventilador/respirador mecânico) e está “perdido” porque não se recorda do que aconteceu com ele. Sua memória pode levar algum tempo para se recuperar e seu ritmo circadiano (ritmo dia/noite) será frequentemente perturbado. Quando o paciente acorda, é frequente ser necessário repetir as mesmas coisas por diversas vezes. Também será necessário reorientá-lo no tempo e no espaço, ou seja, informar a data, o dia e a hora, além de explicar onde ele está e por que está internado em uma UTI. Anotar a data do dia e os nomes da equipe de atendimento no quadro do quarto do paciente pode ajudá-lo a se reorientar gradualmente.

Delirium

O delirium em cuidados intensivos é um estado cognitivo no qual o paciente está acordado, mas apresenta alucinações e delírios. O delirium pode ter muitas causas, como certas patologias, alguns tratamentos, falta de sono, etc., e pode ser exacerbado pela idade. É uma condição difícil principalmente para os familiares, que podem ficar particularmente perturbados com a mudança de personalidade ou com as reações inesperadas e incomuns do paciente. O delirium em cuidados intensivos é uma condição transitória que pode durar alguns dias ou até algumas semanas, mas não persistirá depois das causas serem identificadas, eliminadas ou tratadas.

Conforto

A permanência em cuidados intensivos é um período difícil. Muitos dos cuidados necessários costumam ser desconfortáveis, preocupantes ou até mesmo dolorosos, a despeito da aplicação de analgésicos e das precauções tomadas pelos profissionais de saúde. Os cuidados com a higiene e a reabilitação também podem ser difíceis. Colocar os pacientes em uma cadeira de rodas, por exemplo, ajuda a aliviar a dor nas costas associada ao repouso no leito e promove a respiração, o trânsito e a reorientação no tempo e no espaço. No entanto, é um esforço muito grande para o paciente, que passou dias ou até semanas deitado, e essa posição, ao estimular os músculos, pode rapidamente se tornar dolorosa. Por mais difícil que essa fase possa parecer, é necessário passar por ela e aumentar a duração desses esforços diariamente para permitir que o paciente receba alta. Pouco a pouco, os pacientes recuperam o controle sobre o próprio corpo, sobre os movimentos e, com a ajuda dos profissionais de saúde e dos familiares, vão lentamente recuperando uma certa autonomia. É importante encorajá-los, apoiar seus esforços, parabenizá-los e lembrá-los de seus objetivos (voltar para casa, realizar um projeto importante etc.) sem minimizar o grande esforço que fazem, mesmo nos menores gestos, ou até mesmo no simples ato de ficarem quietos por algumas horas. Uma das funções da família e dos amigos durante esse processo pode ser distrair o paciente da dor e do desconforto, conversando com ele sobre coisas agradáveis ou permitindo que ele se distraia, para que ele possa tolerar a posição desconfortável por mais tempo a cada dia e incentivar sua reabilitação.